Vices, alianças e uma candidatura fumegante - Hold

Vices, alianças e uma candidatura fumegante

Importante etapa do processo eleitoral, o período das convenções partidárias chega ao
fim. Com candidaturas e alianças em tese definidas, o quadro fica mais claro para o
eleitor. Agora, os principais nomes a disputar a sucessão presidencial sairão
efetivamente a campo em busca de votos.

Motivo de polêmicas e após muitas idas e vindas, os nomes dos vices começam a ser
conhecidos. Olhemos as chapas.

Marina Silva (Rede) e Eduardo Jorge (PV): a composição, a princípio, é a mais anódina
entre as já conhecidas. O verde pouco agrega à candidatura da Rede, já que ambos
têm perfis similares. Há pouco espaço para o crescimento da chapa para além do seu
eleitorado tradicional.

Álvaro Dias (Podemos) e Paulo Rabello de Castro (PSC): ao que tudo indica, o PSC
lançou o ex-presidente do BNDES como candidato a presidente para reforçar seu cacife
político. Agora, na condição de vice, ele tem a missão de dar lastro intelectual ao
senador paranaense. O desafio imediato da chapa é crescer além da região Sul, onde
Dias é mais forte.

Geraldo Alckmin (PSDB) e Ana Amélia (PP): o Centrão ganhou mais uma e emplacou o
nome da senadora gaúcha. A escolha atinge, em tese, três objetivos imediatos -
reforçar o compromisso entre o tucanato e seus novos aliados, ganhar espaço junto ao
eleitorado feminino e marcar posição na região Sul, onde Alckmin disputa voto a voto
com Jair Bolsonaro e Álvaro Dias.

As demais chapas, com exceção do PSOL (Guilherme Boulos e Sônia Guajajara) e do
Novo (João Amoêdo e Christian Lohbauer), ainda não estão definidas. Henrique
Meirelles (MDB) negocia com a igualmente medebista Marta Suplicy a vaga de vice.
Essa composição apenas reforça o isolamento do partido do presidente Michel Temer.

Já Ciro Gomes (PDT) está em conversas com o deputado Silvio Costa (Avante). A chapa,
caso se concretize, também agregará pouco ao pedetista, pois será integrada por dois
políticos da região Nordeste com personalidades fortes. Por fim, Manuela D’Ávila
(PCdoB) em recentes declarações, afirmou que está discutindo internamente e que a
definição sairá apenas no limite do prazo.

No âmbito das alianças, os últimos movimentos confirmaram negociações que já
estavam em curso. A ampla coligação em torno de Alckmin tornou-se realidade e os
partidos chamados "nanicos" se encaixam nos espaços disponíveis ao redor das
principais chapas.

O principal destaque nesse quesito foi o acordo entre o PT e o PSB. Os socialistas, que
flertavam com Ciro Gomes, acertaram um pacto de neutralidade com os petistas e não
apoiarão candidato algum à presidência. A decisão, de alto risco, irritou setores do PT
e do PSB, que se sentiram rifados. A esquerda parece dividida como poucas vezes
esteve na história recente do país.

O quadro acima remete à "candidatura fumegante" do título. O pedetista Ciro Gomes,
primeiramente abandonado pelo Centrão (com quem negociava), foi jogado ao mar
pelos socialistas após haverem estabelecido conversas aprofundadas. O candidato do
PDT sente-se "traído" e deixa reduzida margem de manobra para abrir mão da cabeça
de chapa e integrar uma aliança com o PT na condição de vice. Ciro Gomes pode estar
perto de assumir uma posição que já conhece bem - a de franco-atirador, partindo
para o ataque contra todos.

André Pereira César
Cientista Político

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