Sobre os derrotados no Congresso Nacional - Hold

Sobre os derrotados no Congresso Nacional

Nas eleições de domingo último, chamaram a atenção os resultados negativos para
muitos medalhões do Congresso Nacional. As mudanças se deram tanto na Câmara
dos Deputados quanto no Senado Federal.

Contrariando todos os prognósticos, a renovação da composição da Câmara foi a maior
dos últimos tempos. Algo em torno de 52%. No Senado essa renovação foi ainda
maior, chegando a 85%.

Algumas hipóteses se somam para explicar o fenômeno, que alterará de maneira
significativa o quadro político a partir de 2019.

Efeito Temer: uma primeira hipótese diz respeito aos parlamentares que apoiaram o
governo Temer. Esse grupo de deputados e senadores, notadamente do MDB, foi
protagonista do processo político em curso desde a posse do atual presidente, em
meados de 2016.

A administração Temer, que vive seus últimos momentos, foi a mais mal avaliada da
história do país. Quem a ela se aliou foi "contaminado" pela rejeição do eleitorado.

Entre esses políticos podemos citar os senadores Eunício Oliveira (MDB/CE), Valdir
Raupp (MDB/RO), Romero Jucá (MDB/RR), Edison Lobão (MDB/MA) e Waldemir Moka
(MDB/MS). Também integram o grupo, entre outros, o líder do governo, deputado
André Moura (PSC/SE), que disputou uma vaga para o Senado, e os deputados Roberto
Freire (PPS/SP), Mendonça Filho (DEM/PE) e Bruno Araújo (PSDB/PE), que ocuparam
respectivamente as pastas da Cultura, da Educação e das Cidades.

Onda Bolsonaro/direita: o crescimento da candidatura presidencial de Jair Bolsonaro
(PSL), em especial na reta final da campanha, teve reflexos na disputa legislativa.

Muitos candidatos ideológica e programaticamente alinhados ao capitão aposentado
foram beneficiados por essa "onda". Assim, ganharam espaço justamente sobre
candidaturas até então consolidadas.

Integram esse grupo, entre outros, os senadores Roberto Requião (MDB/PR), Vanessa
Graziotin (PCdoB/AM), Angela Portela (PDT/RR) e Cristovam Buarque (PPS/DF).
Também entram nesse rol os deputados Chico Alencar (PSOL/RJ), Luiz Couto (PT/PB),
Luiz Sérgio (PT/RJ), Miro Teixeira (REDE/RJ) e Marco Maia (PT/RS), todos de centroesquerda.

Mudança geracional: uma terceira hipótese aborda a questão da mudança geracional.
Parlamentares que tinham assento no Congresso há muitos mandatos perderam
espaço para novatos até então pouco conhecidos do eleitorado.

Essa lista, em especial, é extensa e surpreendente. Entre outros estão os deputados
Nelson Marquezelli (MDB/SP), Arnaldo Faria de Sá (PP/SP), Osmar Serraglio (PP/PR),
Pauderney Avelino (DEM/AM), Saraiva Felipe (MDB/MG), Darcísio Perondi (MDB/RS), e
o decano da reforma tributária, Luiz Carlos Hauly (PSDB/PR), todos considerados
favoritos até o dia do pleito.

Considerações finais: é claro que as hipóteses abordadas não esgotam as explicações
para o quadro de mudanças registrado nessa eleição. Em muitos casos, questões
específicas determinaram os resultados. Por exemplo, a derrota do senador Magno
Malta (PR/ES), conservador, aliado de Bolsonaro e crítico do governo Temer, não
encontra explicação nos parâmetros acima.

Já o caso da família Sarney é outro. O clã é próximo ao presidente Temer e, ao mesmo
tempo, sofreu o impacto da mudança geracional. Superposição de motivos, como se
vê.

Cabe lembrar ainda, como já dito, que as pesquisas de intenção de voto não
conseguiram captar os movimentos do eleitorado na disputa para o Legislativo. Fica o
alerta para os institutos repensarem suas ações nessa frente, que tem uma brutal
importância no cenário político, por conta da distribuição do fundo partidário, do
tempo de TV, das lideranças partidárias e da distribuição dos cargos e presidências de
Comissões temáticas no âmbito do Congresso Nacional.

Essa expressiva renovação, a partir de 2019, é um contingente nada desprezível, que
muda radicalmente o rosto da Casa e impacta fortemente em seu funcionamento.

André Pereira César
Cientista Político

Alvaro Maimoni
Advogado e Consultor

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