Quatro à mesa - Hold

Quatro à mesa

Os números apresentados pelas recentes pesquisas de intenção de votos, em especial
o último DataFolha, apontam claramente os rumos do processo sucessório. Faltando
menos de um mês para o primeiro turno, apenas quatro candidatos seguem vivos na
disputa.

Comecemos pela candidatura que perdeu fôlego e já se mostra sem condições de
reagir. Nas últimas semanas, Marina Silva (Rede) viu suas intenções de voto reduzidas
à metade, passando de 16% para 8%. Com poucos recursos e uma campanha focada
em nichos que ela já dominava, Marina não empolga. Seu desafio agora é eleger uma
bancada razoável no Congresso Nacional. Isso também não será fácil.

Assim, a disputa fica restrita a Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT), Fernando
Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Mesmo entre esses quatro as diferenças são
gritantes.

O candidato tucano, apesar de ainda vivo na disputa, respira por aparelhos. A esperada
reação de sua campanha, em função da ampla coligação e do tempo de propaganda na
televisão, não ocorreu. Essa realidade desestimula seus aliados. Como consequência,
Alckmin pode ser "cristianizado" e chegar ao final da campanha no bloco
intermediário, resultado que não condiz com as expectativas do PSDB. Seu último
recurso será reforçar os ataques a Bolsonaro e a Haddad. As chances de reviravolta
existem, mas são remotas.

No outro extremo, Bolsonaro segue firme na liderança e já se pode afirmar de que ele
está muito perto do segundo turno. O ataque sofrido pelo candidato não repercutiu na
intensidade que seus apoiadores esperavam, mas ele se mantém com confortáveis
26% das intenções de voto. O importante agora é evitar um racha em seu comando de
campanha e continuar focado nas redes sociais, o que tem feito com sucesso até
agora.

Dito isso, a outra vaga para o segundo turno está entre Ciro Gomes e Haddad.
Empatados com 13% cada, o embate entre eles deve se intensificar dramaticamente
até outubro.

Para Ciro, o grande obstáculo será superar as limitações financeiras e físicas de sua
campanha. Além disso, seu comportamento mercurial pode ser explorado pelos
adversários. Por outro lado, o pedetista conta com menor índice de rejeição (21%) e
poderá se utilizar de um discurso antipetista, que agrade a parcela significativa do
eleitorado.

Haddad, por sua vez, conta com a militância e, mais ainda, a força de Lula para
alavancar de vez sua candidatura. A capacidade de transferência de votos do expresidente
para o candidato é uma incógnita, mas seu potencial é inegável. Haddad
também tem problemas - índice de rejeição em alta (passou de 22% para 26%) e o
espectro do antipetismo.

De todo modo, tudo indica que a esquerda pegará em armas para definir quem
ocupará essa faixa no segundo turno.

Um último elemento a ser analisado é o voto útil. Nos dois campos (direita e esquerda)
ele pode se materializar desde já. O risco de um eventual êxito do PT no segundo turno
pode levar o eleitor de Alckmin, Meirelles, Amoêdo e Álvaro Dias a optar por aquele
que considera um "mal menor", ou seja, Bolsonaro. Na esquerda, o potencial de
desempenho de Ciro ou de Haddad pode carrear votos adicionais para ele. O tempo
dirá.

Enfim, restaram quatro jogadores na mesa. Nos próximos dias, esse número deverá ser
reduzido a três, com a possível perda de competitividade de Alckmin. Outras questões
seguirão no ar, sendo a principal delas o real estado de saúde de Bolsonaro. A sucessão
vive momentos decisivos.

André Pereira César
Cientista Político

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