O PT depois das eleições - Hold

O PT depois das eleições

Até pouco tempo atrás, muitos afirmavam que o PT seria o grande derrotado das
eleições. Tais análises se mostraram exageradas. De fato, os petistas perderam espaço.
No entanto, comparado a MDB, PSDB e DEM, que igualmente integram o
establishment político, o PT teve desempenho mais do que razoável no pleito, tanto
que reelegeu três governadores no primeiro turno (BA, CE e PI) e, ao que tudo indica,
elegerá a senadora Fátima Bezerra no Rio Grande do Norte.

Partindo-se dessa realidade, é importante analisar o que será do petismo daqui em
diante. Bancadas parlamentares, lideranças, agenda, tudo terá peso nos destinos da
agremiação.

Bancadas: o PT elegeu a maior bancada na Câmara dos Deputados. Os 56
parlamentares que assumirão em fevereiro de 2019 representam 11% da Casa. O
desempenho do PT foi muito superior ao do MDB (34 eleitos), PSDB e DEM (29 cada).

Para o partido, ter a maior bancada é importante não só pelo papel de destaque
dentro do parlamento, como também a maior fatia do fundo partidário, do fundo
eleitoral, do tempo de rádio e televisão e de poder pleitear de igual a presidência das
principais comissões temáticas da Câmara dos Deputados.

No Senado Federal, a bancada do PT terá seis integrantes, ou 7% do total. Ficará atrás
do MDB (12), PSDB (8), PSD (7) e empata com DEM e PP. Assim como ocorre na
Câmara, os petistas e os demais partidos perderam cadeiras e dividirão espaço com
novas agremiações.

Pode-se dizer que o quadro, no Congresso Nacional, é de hiperfragmentação
partidária. Muitas legendas surgem e dividem espaço com partidos há muito
consolidados. No caso do PT, as bancadas nas duas Casas deverão atrair para suas
órbitas as demais agremiações de centro-esquerda na tentativa de se estabelecer uma
linha de ação única.

Lideranças: um dos saldos do processo eleitoral é a consolidação de lideranças
partidárias. Vencendo ou não a disputa presidencial, Fernando Haddad tornou-se um
rosto nacional do PT. Jovem, moderado e com excelente formação, ele certamente
deverá se tornar um dos principais nomes do partido a partir de agora.

Outra liderança que se consolida definitivamente é o ex-governador e senador eleito
pela Bahia, Jacques Wagner. Outrora cotado para disputar a presidência, o petista já
integra a cúpula da campanha de Haddad. Dada a sua experiência, deverá ser o nome
indicado para comandar a bancada e a centro-esquerda no Senado.

Por fim, a Câmara terá uma mistura de novas e velhas lideranças. Destacam-se o
veterano Arlindo Chinaglia (SP) e o novato no parlamento Alexandre Padilha (SP), que
tem o perfil semelhante ao de Fernando Haddad.

Agenda: ao PT será necessário se debruçar sobre a agenda partidária colocada em
prática desde o início do primeiro governo Lula, em 2003. Questões como as reformas
da Previdência e tributária certamente serão rediscutidas.

Por outro lado, temas caros ao partido, como distribuição de renda e tudo o que se
refere ao social deverão ser aprofundadas, para que o PT retome um discurso (e
prática) mais condizente com as suas origens.

Governo Bolsonaro: no caso de um eventual (e provável) governo Bolsonaro, o PT será
o principal protagonista no campo da oposição. O discurso e a agenda bolsonaristas
são diametralmente opostos ao dos petistas. Indo além, é reduzida à margem de
composição e negociação entre as duas partes.

Assim, o PT é quem deverá comandar o polo opositor a Bolsonaro já na transição. A
seu lado, partidos de esquerda, de centro-esquerda e setores organizados da
sociedade civil.

Considerações finais: para o futuro, o PT precisará se arejar. Deverá manter a
hegemonia no campo da esquerda mas, ao contrário do ocorrido durante a campanha
sucessória de 2018, ceder mais espaço para as demais agremiações do mesmo campo
ideológico, sob pena de se isolar.

Por último, Lula seguirá como importante referência para o partido. Porém, dadas as
limitações para sua atuação, as novas lideranças deverão assumir mais e mais as
rédeas do PT.

André Pereira César
Cientista Político

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