Fim de jogo - Hold

Fim de jogo

Chegamos ao final da campanha eleitoral. Campanha essa que, apesar de encurtada no tempo, pareceu a muitos uma eternidade. Uma sucessão de eventos dramáticos marcou a temporada.

Lula foi o primeiro protagonista do processo sucessório, ainda na etapa pré-eleitoral. Mesmo preso, ele e o PT insistiram até o limite em sua candidatura. Sem sucesso, a cabeça de chapa passou a Fernando Haddad.

Depois, o protagonismo mudou de mãos e passou a Jair Bolsonaro. Líder das pesquisas sem Lula na disputa, o capitão reformado jamais foi seriamente ameaçado de perder a condição de favorito. O atentado ocorrido no início de setembro em Juiz de Fora (MG), se não impactou da maneira esperada por seus aliados, ao menos consolidou sua candidatura. Bolsonaro saiu politicamente fortalecido do episódio.

A campanha marcou também o início de um amplo processo de reorganização partidária. O PSDB, em especial, será outro de agora em diante. O pífio desempenho de Geraldo Alckmin e de candidatos a governador, além da redução significativa de sua bancada federal, obrigarão a uma drástica mudança de rumos. O tucanato precisará se reinventar - do contrário, o partido desaparecerá.

O processo de reorganização também se deu no âmbito das antigas lideranças políticas do país. Medalhões que há tempos ocupavam postos de destaque no Legislativo foram derrotados por novatos que acabam de entrar em cena. Esse fato impactará fortemente na dinâmica do Congresso Nacional - o processo de articulação e de negociação viverá um período de reacomodação.

Vivemos ainda a era das fake news, que se propagaram com velocidade impressionante. O WhatsApp foi personagem central da disputa, em todos os níveis. Partidos e candidatos se aproveitaram desse expediente para conquistar votos, muitas vezes sem sucesso.

A polarização extrema igualmente marcou a campanha eleitoral. Como poucas vezes visto na história do país, direita e esquerda se digladiaram em torno de visões de mundo e candidaturas. As feridas resultantes desse quadro demorarão a cicatrizar.

Enfim, a bandeira de chegada está logo à frente. O último levantamento do DataFolha, divulgado na noite de quinta-feira, confirma o favoritismo de Bolsonaro. Ele aparece com 56% dos votos válidos, contra 44% de Haddad. O petista vem ganhando terreno, mas o fator tempo pode ser fatal para uma virada de última hora. No entanto, ondas podem ocorrer às vésperas de pleitos como visto em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

O novo presidente, que será conhecido na noite de domingo próximo, terá múltiplos desafios pela frente. Fato. Recolocar a economia nos trilhos será o principal e mais imediato, mas não o único. Como disse Tom Jobim, "o Brasil não é para principiantes".

André Pereira César
Cientista Político

Texto publicado originalmente em 26/10/2018.

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