Em algum lugar do passado - Hold

Em algum lugar do passado

As urnas confirmaram as projeções dos institutos de pesquisa e a sucessão presidencial
será decidida em segundo turno. Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) já se
movimentam em uma campanha que promete duros embates.

De lado a lado, os desafios serão múltiplos, visando as mesmas metas - ampliar o leque
de apoiadores para ganhar espaço junto ao eleitorado. As próximas três semanas
serão de intensa negociação.

É inegável o fato de que Bolsonaro larga na frente. Com pouco mais de 46% dos votos
válidos, ele colheu os frutos do voto anti-sistema, explorando com eficácia o
sentimento contra "tudo o que está aí" que se espalha pela sociedade nos dias que
correm.

Bolsonaro, porém, precisa do apoio de setores do establishment político. A
aproximação de grupos organizados, como as bancadas ruralista e religiosa, é
necessária para abrir novos palanques no segundo turno. Nesse processo de conquista
de novos aliados, o capitão reformado precisará deixar claro ao eleitor que o discurso
e as propostas seguirão as mesmas.

O petista Haddad, por sua vez, precisará mudar algumas diretrizes de sua campanha.
Em primeiro lugar, buscar o centro para conseguir ampliar o apoio de partidos e
também de eleitores refratários ao PT. Com cerca de 29% dos votos válidos, somente
um salto dará competitividade efetiva para o ex-prefeito paulistano no segundo turno.

Além disso, Haddad e seus apoiadores precisam se afastar, em alguma medida, da
imagem do ex-presidente Lula. O eleitor já conhece o candidato do PT. Esse mesmo
eleitor não vê com bons olhos as frequentes reuniões entre Haddad e Lula em Curitiba.

Esse descolamento, agora, será importante para os rumos da campanha petista.
Alguns pontos precisam ser ressaltados aqui. Como se comportarão as antigas
lideranças políticas derrotadas no pleito, em especial no Senado? Como negociarão
nos próximos dias os governadores já eleitos? E a nova Câmara dos Deputados, o que
esperar dela nessa etapa da disputa?

Um desafio extra para os dois candidatos será o de "despolarizar" a sociedade. Essa
será uma condição essencial tanto para o processo de transição vindouro quanto para
a atuação do governo que assumirá em janeiro de 2019.

Em suma, estarão frente a frente dois modelos que olham para o futuro inspirados no
passado. De um lado, uma nostalgia que projeta o retorno ao período Lula, com forte
crescimento econômico com grande inclusão social. De outro, a memória do "Brasil
grande" do passado, com menor apreço aos direitos individuais e coletivos e foco na
"ordem com progresso". São dois modelos que não mais se enquadram nos dias atuais,
por conta da realidade econômica atual (Haddad e PT) e das conquistas da democracia
nos últimos trinta anos (Bolsonaro e aliados). Resta saber se o vencedor conseguirá
adaptar suas propostas ao Brasil pós-2018.

André Pereira César
Cientista Político

Comments are closed.