Candidatura Bolsonaro em tempos de turbulência - Hold

Candidatura Bolsonaro em tempos de turbulência

Uma conversa entre o economista Paulo Guedes e operadores do mercado financeiro
gerou uma crise na campanha de Jair Bolsonaro (PSL). Mais que isso, o episódio
evidencia que o possível ministro da Fazenda tem diferenças importantes com o
candidato presidencial. Para o processo sucessório, as consequências do ocorrido
podem ser dramáticas.

Segundo interlocutores, Guedes defendeu abertamente a criação de um tributo nos
moldes da CPMF. Em tempos de redes sociais e afins, a reação foi imediata. Agentes
do mercado, especialistas e a população em geral criticaram duramente a proposta.

Em sua defesa, o economista afirmou que o tributo seria único, em substituição a
outros. No entanto, a "nova CPMF" não incluiria a CSLL nem o Imposto de Renda. Com
relação a esse último, o quadro é ainda pior, pois a proposta de Guedes geraria perda
de bilhões para a União e incidiria com mais força sobre a população com menor
renda.

O estrago está feito e será muito difícil para Bolsonaro sair ileso do episódio. É sabido
por todos que a CPMF é um imposto impopular e que, segundo especialistas, gera um
efeito cascata que onera pesadamente a cadeia produtiva. A criação do tributo é
politicamente inviável.

A combinação de inépcia política de Guedes com o escasso conhecimento de
economia de Bolsonaro veio à tona em um momento crucial da campanha. A grande
imprensa internacional começa a publicar matérias nas quais questiona a candidatura
de Bolsonaro. Economist, New York Times, Financial Times, Le Monde - é extensa a
lista das importantes publicações que se puseram abertamente contrárias ao capitão
aposentado.

A suposta "bronca" do candidato a seu "posto Ipiranga" foi ainda pior - Guedes
cancelou a participação em eventos importantes com o mercado e passou a sensação
de fraqueza justamente quando precisava demonstrar pulso firme. O próprio mercado,
que via em Bolsonaro o antídoto contra o avanço da esquerda, começa a emitir sinais
de que pode abandonar esse barco.

As notícias ruins para Bolsonaro não se esgotam aí. Centenas de intelectuais
publicaram manifesto contra sua candidatura, o ex-presidente Cardoso divulgou carta
na qual pede "moderação" e o movimento #elenão ganha força e realizará grande
evento em todo o país, no próximo dia 29, de contestação ao candidato.

É claro que Bolsonaro tem gordura para queimar. Ele segue firme na liderança da
disputa - a mais recente pesquisa FSB/BTG Pactual mostra-o estabilizado com 33% das
intenções de voto, contra 23% do petista Haddad, que segue em curva ascendente. A
menos de duas semanas do primeiro turno, as previsões de que Bolsonaro "derreteria"
não se materializaram, pelo menos até agora.

A questão agora é se aferir o grau do estrago que a crise “Paulo Guedes” gerou na
candidatura de Bolsonaro. A disputa com o PT de Lula e Haddad se intensificará até a
conclusão do pleito. Qualquer novo deslize pode ser fatal para as pretensões do
capitão aposentado.

André Pereira César
Cientista Político

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