A hora e a vez da televisão - Hold

A hora e a vez da televisão

Aguardada por muitos, a propaganda eleitoral em rádio e televisão aberta terá início
nessa sexta-feira, 31 de agosto. Pelos próximos 35 dias, os candidatos entrarão nos
lares e se apresentarão ao eleitorado. O que esperar disso?

Historicamente, a televisão tem significativa influência no processo de decisão do voto
do brasileiro. A título de exemplo, de 1989 para cá, quatro dos sete presidenciáveis
com maior tempo de propaganda foram eleitos.

Hoje, no entanto, alguns fatores indicam que esse peso será sensivelmente reduzido
por conta da concorrência com a internet.

Em primeiro lugar, observe-se a questão do tempo. Na telinha, a campanha será curta.
Em 1989, a propaganda foi ao ar durante 58 dias, com cinco horas diárias divididas em
dois blocos. No pleito de 2018, serão apenas 25 minutos a cada dia por pouco mais de
um mês. Na disputa presidencial, os candidatos "nanicos" praticamente não
aparecerão - e mesmo nomes competitivos, como Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva
(Rede) e Ciro Gomes (PDT), terão baixíssima exposição. Do outro lado, Geraldo Alckmin
(PSDB) aparece com o chamado "latifúndio de tempo".

Mais importante que o fator tempo, o advento da internet contribui em larga medida
para a menor força da televisão na campanha. Redes sociais, grupos de WhatsApp e
similares se tornaram importante fonte de informação política para o eleitor,
principalmente entre os mais jovens.

A internet já faz parte do cotidiano do brasileiro. Segundo o IBGE, são pouco mais de
116 milhões de internautas no país - 70% dos lares estão conectados à rede. Trata-se
de um contingente nada desprezível.

A campanha eleitoral, em curso desde 16 de agosto, já se faz notar nas redes sociais. O
debate corre solto em plataformas como o Facebook e o Twitter e os candidatos têm
participação ativa, patrocinando posts e estimulando militantes e simpatizantes.

De hegemônica, a televisão agora tem uma forte concorrência e passará a dividir com
a internet a influência no processo eleitoral. A propaganda na TV, é claro, continuará
importante. Segundo recente pesquisa do Ibope, 62% dos eleitores se informarão
sobre o pleito pela televisão, enquanto 59% o farão pela internet.

Demais eventos televisivos, como debates entre os candidatos, igualmente terão peso.
Tanto que as redes sociais são imediatamente invadidas com “memes” e todo tipo de
piada ou comentários acerca do que se passou na televisão. O mesmo pode se dizer a
respeito das inserções, que entram durante a programação normal. Por fim, os
partidos deverão usar a televisão para rebater as fake news difundidas pela internet e
também para responder aos ataques dos adversários.

Em suma, a televisão segue com grande valor simbólico no processo eleitoral. "A
campanha começa quando chega o horário na TV" é uma observação comum, e não de
todo equivocada. Qualquer candidato que esteja na disputa com um mínimo de
seriedade sabe que não poderá deixar de lado a telinha e se concentrar apenas e tão
somente na internet, porque, do contrário, o risco de fracasso será real.

André Pereira César
Cientista Político

Comments are closed.