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Lava Jato: política e polícia

Beto Barata - 17.mar.2014/Folhapress

Há exatos cinco anos, uma prosaica operação da Polícia Federal começava a mudar a face da política no Brasil. A Lava Jato, que inicialmente investigaria doleiros que atuavam em um posto de Brasília, descobriu algo muito maior.

Aos números. Desde então, mais de 500 pessoas foram acusadas, e as penas dos sentenciados totalizam mais de dois mil anos. Um ex-presidente da República está preso, assim como grandes empresários e políticos influentes de diversos partidos. A Petrobras, uma das joias da Coroa, ficou em xeque.

O que começou com o PT e seus aliados desaguou no establishment político como um todo. O processo eleitoral de 2018 sintetiza à perfeição essa realidade.

A antiga bandeira petista foi à lona. O mesmo ocorreu com o MDB, sempre próximo ao poder, que perdeu terreno e viu muitas lideranças no ocaso.

Por fim, o PSDB enfrenta um momento de difícil renovação. A bancada do partido foi afetada pelas investigações e reduziu significativamente de tamanho na Câmara e no Senado. O partido tenta se reconstruir, afastando lideranças tradicionais que perderam espaço e prestígio.

Importante ressaltar que as redes sociais ajudaram a propagar a operação. Sem Facebook e Twitter, é difícil imaginar o potencial de alcance das ações da Lava Jato. Desse modo, Sérgio Moro, goste-se dele ou não, foi alçado ao posto de herói nacional. Uma celebridade instantânea.

O saldo final é mais que conhecido. O presidente Jair Bolsonaro se utilizou com inteligência do ambiente reinante e, mesmo com as limitações materiais de sua campanha, derrotou os adversários. Igualmente seu partido, o PSL, surfou com sucesso nessa onda.

A questão agora é saber o destino da Lava Jato, já que sofreu, nesses últimos dias, algum abalos antes inimagináveis. Há questionamentos legais de toda ordem e um certo cansaço por parte da opinião pública.

A apresentação, pela Procuradora Geral da República Raquel Dodge, de uma representação junto ao STF requerendo a anulação de um acordo firmado entre a Petrobras e o governo dos EUA que previa a criação de um fundo a ser administrado pelo Ministério Público Federal, do Paraná, do montante de R$ 2,5 bilhões, a decisão do Ministro Alexandre de Moraes que suspendeu a homologação e a eficácia desse acordo e a decisão do plenário do STF que entendeu que os crimes de caixa dois e seus crimes conexos devem ser julgados pela Justiça Eleitoral, retirando assim, da Justiça Federal (Força Tarefa da Lava Jato) a análise dessas matérias, são exemplos de que há um movimento institucional de freio e contrapeso.

Para onde vai a Lava Jato é a pergunta a ser respondida. E deve-se aferir, agora, o grau de empenho do Planalto em manter o ritmo da operação.

André Pereira César
Cientista Político

Alvaro Maimoni
Consultor Jurídico

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