Depois dos 50 - Bolsonaro - 100 primeiros dias - Hold

Depois dos 50

Passados apenas cinquenta dias da posse, o governo Bolsonaro já enfrenta problemas de monta. Em diversas frentes, o Planalto não tem conseguido conter a pressão de aliados. A coordenação política é o principal nó da atual gestão.

Eventos polêmicos não faltam. Para citar apenas alguns, lembremos do caso Queiroz/Flávio Bolsonaro, ainda não esclarecido; a controversa participação do presidente no Fórum Econômico Mundial, em Davos; o protagonismo do vice-presidente, Hamilton Mourão, uma voz moderada que gera desconforto no seio da família Bolsonaro; e a crise das candidaturas "laranjas" do PSL, que culminaram com a exoneração de Gustavo Bebianno, até então secretário-geral da Presidência da República.

O caso Bebianno sintetiza a falta de articulação política. Sexta-feira última, no ápice da crise, um grupo político, composto pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e militares de alta patente entrou em campo para encaminhar uma solução. O quadro parecia seguir à normalidade quando Carlos Bolsonaro, filho do presidente, atacou Bebianno pelas redes sociais. A situação tornou-se insustentável e o secretário-geral caiu.

Nos cinquenta dias de gestão, os filhos do presidente deixaram sua marca e têm criado visíveis problemas para o Planalto. A ingerência dos "meninos Bolsonaro" incomoda a muitos. Alguns militares já externaram ao presidente o desconforto. Os generais da reserva e ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Fernando Azevedo (Defesa) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), estão entre aqueles que manifestaram incômodo. A falta de pulso de Jair Bolsonaro, somada à influência dos filhos, reforça a percepção geral de desarticulação política na cúpula governista.

Essa desarticulação deságua no Congresso Nacional e já deixou sequelas na Câmara dos Deputados. Em um claro recado para o presidente, o plenário da Casa rejeitou o decreto do Executivo que tratava do sigilo de dados. Apenas o PSL, com exceção do presidente do partido, Luciano Bivar, que votou pela inclusão da matéria em pauta, saiu em defesa da medida de Bolsonaro. O episódio marca a primeira derrota do governo no plenário.

Nem mesmo a entrega, pelos ministros Sergio Moro e Onyx Lorenzoni, do pacote anticrime ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi capaz de dissipar o clima de insatisfação e incertezas no ambiente político.

Para atenuar um pouco o quadro, foi divulgada a mais recente rodada da pesquisa XP de opinião pública. Bolsonaro manteve os mesmos 40% de aprovação de janeiro, um razoável capital político. Cabe ressaltar, porém, que o levantamento ocorreu antes da divulgação das candidaturas laranjas do PSL.

Agora chegará o grande teste para o governo, a discussão sobre a reforma da Previdência. O próprio presidente entregará o texto da proposta aos parlamentares. Independentemente de seu conteúdo, uma coisa é certa: sem uma ampla reorganização na articulação política, o governo corre sérios riscos de ver sua proposta rejeitada. As consequências disso seriam as piores possíveis para Bolsonaro.

André Pereira César
Cientista Político

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