Imagem: Ricardo Stuckert
Após sofrer reveses em série nos últimos meses, o governo Lula (PT) parece, ao menos por ora, ter virado o jogo, e alguns eventos recentes podem ser de fato capitalizados pelo Planalto. Um novo ciclo se inicia?
Em primeiro lugar, observemos a votação, na Câmara dos Deputados, do projeto de lei que concede isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil, além de taxar os mais ricos, para compensar. A votação unânime (493 votos) mostra a força da proposta, que agora segue para o Senado Federal.
De fato, às vésperas de ano eleitoral, os parlamentares, independente do partido, teriam dificuldade para se posicionar contra a matéria. Já o governo Lula, em seu terceiro mandato, finalmente pode ter ganho uma (importante) marca, uma espécie de Bolsa Família da atual gestão.
Indo além, a virtual retomada das conversas com os Estados Unidos representa um ganho da diplomacia e da política brasileiras. É evidente que, dada a imprevisibilidade do republicano Donald Trump, toda cautela se faz necessária. Mesmo assim é inegável que o ambiente entre os dois países melhorou, e as portas podem estar novamente sendo abertas.
Outra ocorrência positiva para o Executivo foi o encerramento da possibilidade de se apreciar a PEC da Blindagem e o projeto da anistia ampla, geral e irrestrita para os envolvidos no 8 de janeiro. Agora resta acompanhar a evolução das discussões em torno da chamada dosimetria, que deverá, caso avance, apenas reduzir as penas de atores secundários no processo.
No entanto, as batalhas do governo junto ao Parlamento não param e novos embates estão logo alí. O desafio imediato é a votação da medida provisória sobre compensação da revogação do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A matéria, que vence na quarta-feira, 8 de outubro, tem sido constantemente adiada e são reais os riscos de que caduque.
Em paralelo, a oposição vive um período de baixa. Na esteira da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe, os principais nomes para a sucessão presidencial não se entendem e trocam pesadas farpas em público, o que pode afastar o eleitor médio. O até então principal pré-candidato do grupo, o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), já sinaliza que deverá tentar a reeleição no estado. Planalto, somente em 2030.
É claro que tudo pode ser uma onda, com a possibilidade da ocorrência de novas derrotas do governo. Uma coisa é certa, porém - faltando exatamente um ano para o pleito, o presidente Lula voltou em definitivo ao jogo, o que incomoda muito seus adversários.
André Pereira César
Cientista Político


