Os dados não mentem. O brasileiro médio segue conservador em relação à pauta de costumes. Esse quadro é mostrado com clareza na mais recente pesquisa Ipsos/Ipec, divulgada na segunda-feira, 28 de julho.
Aos números. De acordo com o levantamento, 72% da população é favorável à pena de prisão perpétua para quem cometer crime hediondo, enquanto 21% são contrários; a redução da maioridade penal tem 65% de apoio, e 28% reprovam a medida; a pena de morte conta com expressivos 43% favoráveis, e uma leve maioria de 49% é contra; e 40% se diz a favor da flexibilização da posse de armas, enquanto 54% tem posição contrária.
Pela metodologia aplicada, 49% da população apresenta alto grau de conservadorismo, 44% médio e inexpressivos 8% são tidos como progressistas. O índice de conservadorismo, em uma escala de 1 para progressista e 0 para conservador, está em 0,652 - em 2023, esse número era 0,665.
Os indicadores reforçam alguns pontos já anotados em outras ocasiões. Primeiro, a permanente pressão de parlamentares, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal, pela inclusão, na pauta de votações, de propostas de caráter menos progressista. Aqui, partidos de centro-direita e direita como PL, PP, Republicanos e União Brasil, têm terreno livre para transitar.
Deve-se observar, ainda, que não só o Parlamento federal reverbera o conservadorismo da grande maioria da população, mas também e principalmente as Câmaras Municipais e prefeituras, que, por estarem na chamada “ponta de lança”, acabam sofrendo pressão adicional de seus eleitores mais conservadores e/ou radicais.
Por outro lado, uma agenda mais liberal e progressista, em tese característica da centro-esquerda e esquerda, enfrenta obstáculos adicionais. Questões de gênero, por exemplo, perdem espaço - na atual Legislatura pouco se avançou no debate de proposições com esse perfil.
Por fim, os números evidenciam que a sociedade brasileira segue polarizada. O governo Lula (PT) segue “assombrado” pelo bolsonarismo, um quadro que tende a se manter ao menos a médio prazo.
A grande questão diz respeito a como esse eleitorado votará em 2026. Candidatos ao Legislativo e também ao Executivo precisarão olhar com lupa essa realidade para terem êxito nas urnas no próximo ano.
André Pereira César
Cientista Político


