Com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível, a direita busca alternativas politicamente viáveis para as eleições de 2026. Em tese há muitas opções, mas nenhum nome que realmente empolgue o eleitorado. A principal disputa se dará no Senado Federal, com 54 cadeiras em jogo, 2/3 da Casa. O tempo corre.
Para começar, vamos aos números. Pesquisa Pulso Brasil/Ipespe recentemente apresentada mostra que Bolsonaro mantém o capital politico, apesar da difícil situação legal por ele enfrentada. De acordo com o levantamento, 46% dos eleitores consideram o ex-presidente o principal representante dos valores e do pensamento da direita no país. Muito atrás estão os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 14%, Ronaldo Caiado (União Brasil), Ratinho Júnior (PSD) e Romeu Zema (Novo), todos com 3% cada. Desempenho pífio dos pré-candidatos a substituir Bolsonaro, indicativo que terão dificuldades pela frente.
Dada essa realidade, fica a pergunta - algum outro nome pode se apresentar como o representante do grupo na disputa sucessória? Há postulantes sim, como os senadores Rogério Marinho (PL/RN), ex-ministro de Bolsonaro, e Ciro Nogueira (PP/PI), presidente nacional de seu partido. Ambos, porém, têm pouco apelo nacional e, no limite, deverão ser auxiliares (importantes, diga-se) na construção dessa candidatura.
Na Câmara dos Deputados o quadro é similar. Falta um quadro de impacto nacional, apesar da qualidade de representantes do grupo. Falamos aqui, por exemplo, de Luiz Carlos Hauly (Podemos/PR), de larga experiência, e de Arthur Lira (PP/AL), ex-presidente da Casa. Num primeiro momento, pode-se estranhar, pois são dois nomes que não estão necessariamente ligados à ala mais radical da política. No entanto, esses dois parlamentares e tantos outros igualmente não tão radicalizados, caminham para participar do processo de criação da candidatura presidencial desse espectro de direita. Não serão os principais protagonistas, mas deverão participar, de alguma forma, da escolha e apoio a esse nome.
Fora do mundo da política, dada a atual realidade de incertezas, não seria absurdo se pensar no lançamento à presidência da República, de um outsider, um novo “salvador da pátria”. O futuro, não tão distante, dirá.
Na verdade, setores da direita tentam se afastar dos grupos mais radicais, vinculados ao bolsonarismo. Por isso, a busca de um outsider, de um nome totalmente fora dos radares não pode e não deve ser descartada. Aliás, os duros ataques de Eduardo Bolsonaro (PL/SP) a integrantes do grupo indicam que um racha pode estar se materializando à direita. O deputado hoje radicado nos Estados Unidos não perdoa antigos aliados como Tarcísio. Segundo ele, não há empenho na defesa da anistia ao ex-presidente.
Agora caímos na importante eleição para o Senado. Pouco tempo atrás, as projeções iniciais indicavam que a direita, nas suas diferentes vertentes, elegeria um número expressivo de parlamentares, formando uma maioria que poderia inclusive atrapalhar os planos do próximo presidente da República, em especial caso Lula (PT) seja reeleito - ou um candidato por ele apoiado vença e, em especial, impichar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
A evolução dos fatos, no entanto, mudou essa percepção, ao menos por ora. O julgamento de Bolsonaro e de aliados pelo STF incomoda parcela significativa do eleitorado moderado que, por falta de opção, votou no petista em 2022 mas está desiludido com os rumos do governo. Buscando recuperar ao menos parte da popularidade perdida, o Planalto agradece.
Por fim, o atual mandatário ganhou um “presente” involuntário do republicano Donald Trump. O anunciado tarifaço aos produtos brasileiros, que poderá ser implementado nos próximos dias, deu ao governo um discurso de busca da união nacional contra os Estados Unidos. Caso bem conduzido, esse discurso poderá unir empresários e trabalhadores em defesa dos interesses nacionais, negócios e empregos.
A política é, por si, extremamente dinâmica e o que está valendo hoje pode virar pó amanhã. Quem fizer a leitura correta do processo sairá na frente em 2026. Esse é o principal desafio para a fragmentada direita.
André Pereira César
Cientista Político


