Em artigo publicado no final de semana no jornal Folha de São Paulo, o cientista político Jairo Nicolau avalia que os partidos brasileiros passam pelo maior processo de transformação desde o final do regime militar.
De 2017 para cá, treze legendas mudaram de nome, cinco desapareceram por terem sido incorporadas por outras e duas novas agremiações foram criadas a partir de fusões. Em linhas gerais, as 35 agremiações que existiam em 2015 foram reduzidas a 24 hoje, e esse número poderá ser reduzido ainda mais.
Esse quadro ganha maior clareza quando se observa a movimentação de diferentes partidos em busca de maior espaço na cena política - e, no limite, da própria sobrevivência. Discussões sobre fusões estão em curso, bem como avança a questão das federações partidárias. Tudo se move.
No caso das federações, o maior destaque é a associação do União Brasil com o PP. Com 109 deputados, quatorze senadores e quatro ministérios no governo Lula (PT), as duas legendas já encaminharam ao TSE o pedido de registro. O primeiro movimento está definido: derrubar o pacote fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, impondo grande revés para o Planalto. Afinal, União Brasil e PP são base ou oposição?
Já no âmbito das fusões há mais discordância do que entendimento. Discutida há algum tempo, a junção do MDB com o Republicanos (por acaso, também são dois partidos da base governista) enfrenta resistências. Importante liderança emedebista, o senador paraibano Veneziano Vital do Rego, que já foi vice-presidente do Senado Federal, rechaça a ideia, bem como outros expoentes do partido. O mesmo se dá no campo do Republicanos, com muita desconfiança quanto ao rumo das conversas. Por ora, tudo segue como sempre esteve.
Igualmente a fusão entre o PSDB e o Podemos foi suspensa. O motivo é simples - os tucanos não aceitam a proposta de rotatividade na presidência do novo partido e, desse modo, se retiraram das negociações. No caso, segue em aberto a possibilidade de uma federação entre as duas legendas, cada uma delas mantendo estrutura própria. A conferir.
Por fim, outro partido integrante da base aliada, o PSD do onipresente Gilberto Kassab, aproxima-se ainda mais do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), potencial candidato da sucessão presidencial em 2026. O PSD iniciará nesta segunda-feira, 16 de junho, uma série de inserções na TV aberta com mensagens elogiosas ao titular do governo de São Paulo.
Como se vê, o cenário é fluido e muita água há de correr a curto e médio prazos. Pior para o governo Lula, que tem poucos aliados reais a quem possa recorrer.
André Pereira César
Cientista Político


